sexta-feira, 31 de outubro de 2008

*


Educação e Desenvolvimento Sustentável

“O homem é um animal irracional, exatamente como os outros. A única diferença é que os outros são animais irracionais simples, o homem é um animal irracional complexo”. Fernando Pessoa - Reflexões Sobre o Homem*.

Para entendermos a identidade destruidora do homem, ou aquilo que denominamos irracionalidade, será preciso reconceituarmos o termo “animal irracional”, considerando que se tal conceito aplica-se ao homem tem conotação distinta àquela que se concebe ao tratarmos dos outros animais.

Relativamente ao homem, o adjetivo é, sem dúvida, pejorativo, uma vez que remete à agressividade humana para com natureza, do homem para com o outro homem e do homem para consigo mesmo. É óbvio que tais ações são tipicamente humanas, justificando perfeitamente o conceito “animal irracional”, e que é totalmente diferente da ferocidade dum predador numa cadeia ecossistêmica, no fenômeno natural da sobrevivência das espécies, pois, a cena da batalha dum predador numa caça, para se alimentar, jamais poderá ser descrita como um assassinato, e sim, como ação e reação biofísica de forças que se aterem e se repelem no processo vital desse organismo que compõe a biosfera.

Por outro lado, a ação predadora da irracionalidade humana é cruel e assassina, pois é “racionalmente” concebida e, o pior de tudo, é que chega a ser imbecil, por ser auto-destruidora. Esse “homem-irracional” caça inescrupulosamente por ganância, orgulho e poder, de forma premeditada, portanto, nominalmente “racionalizada”, enquanto que o animal irracional propriamente dito luta pela sua sobrevivência, tendo como resultante a sobreexistência das espécies que povoam cada ecossistema, mantendo o equilíbrio e a sustentabilidade do sistema como um todo.

A sustentabilidade é tema prioritário neste século, pois a corrida pelo desenvolvimento está levando o homem a se tornar a espécie ameaçadora da existência de todas as outras, inclusive da sua própria.
A luta deve ser pela busca de tentar alinhar desenvolvimento com sustentabilidade, sendo necessária, para isto, a tomada de consciência da nossa real posição no processo desencadeado por nós mesmos, a caminho dessa autodestruição. A conscientização, por sua vez, tem que ser urgentemente instigada pelos pesquisadores das diversas áreas do conhecimento e difundida pelas instituições de ensino, do fundamental ao superior, utilizando-se de todos os meios de comunicação de massa e articulando-se com todas as organizações dos diversos segmentos da sociedade, ou seja: é preciso fazer um “levante” considerando uma nova ordem em beneficio da preservação da vida, pois a educação e desenvolvimento sustentável equivalem ao norteamento pragmático dessa “pseudo-ordem” política, econômica e social, que viaja aceleradamente a caminho do caos.

*Fernando Pessoa, in 'Reflexões Sobre o Homem - Textos de 1926-1928'

*Júlio Nessin é licenciado em Educação Artística com Habilitação em Desenho; Especialista em Gestão Ambiental e Poeta.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008




Agora é o amor!

Agora é tempo de amar...
Libertar-se do medo
Desprender-se do passado
Que energiza os pontos negativos
Tornando-os presentes em você.
Agora urge que não confunda os sentimentos
Entrelaçados entre o poder e o querer
Misturados entre passado e presente
Não cabe dentro de si a dúvida e o desalento
Porque agora é outro dia, dentro de outro momento.
Agora é tempo de construir e desconstruir no silêncio
Um novo amor que se misture com o prazer de se dar
Em um misto de doar-se por inteiro, incondicionalmente
Sem confundir posse com entrega
E amor simplesmente como prazer.
Agora é o amor mais sublime que o acolherá
E o fará beber no seu aspecto sagrado
A infinitude e a vastidão do seu significado
E se embriagar com o perfume mais doce
Da sua terna melodia.
Agora é tempo de guardar-se, resguardar-se
Do simplesmente carnal
E pensar em algo que lhe aponte
Para a beleza indescritível do amor
Que ultrapasse as barreiras do corpo.
Agora é tempo de amar...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Educação e Cidadania



Artigo


EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Vivemos hoje num cenário de mudanças velozes. A globalização nos coloca num mundo sem fronteiras e, como tal, não podemos estar desconectados de tudo o que acontece ao nosso redor. Isso não foge aos problemas vividos a cada dia na escola. Mais do que nunca, há uma preocupação na relação entre a escola e a realidade sociocultural dos nossos alunos, até para poder entendê-los, entender toda essa problemática chamada indisciplina. Esse é um fenômeno com o qual um grande número de professores tem dificuldade em lidar.
A Educação para o século XXI, segundo perspectivas da UNESCO traz a paz como fio condutor do mundo para a educação do futuro. Nessas perspectivas aparecem claras as novas posturas que educadores e educadoras devem adotar, como sejam: “cultivar a tolerância, o convívio com a diferença, a transigência como pressuposto e a negociação como instrumento do trabalho” em sala de aula para se chegar a um entendimento sobre os aspectos educacionais a serem observados, dentre eles educação e cidadania.
Mas o que é cidadania? De modo geral, a idéia de cidadania, hoje muito desgastada, é apresentada apenas como a de ter direitos, uma característica que não parece suficiente.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem promulgada em 1948 já previa a violação dos direitos humanos, quando se constatava que muitas famílias não tinham direito à moradia, à saúde e à educação, dentre outros direitos negados, como o de reivindicar, de denunciar injustiças.
Não se deve limitar a idéia de cidadania a ter direitos. Vai mais além. A cidadania não deve ser entendida como uma simples inserção social, no atendimento aos direitos, mas deve-se incorporar à idéia de se cumprir deveres. Nenhum cidadão é apenas cidadão de direitos, mas cidadãos de direitos e deveres.
Como falar em cidadania para crianças de escolas de periferia, em que a maioria delas é oriunda de lares despedaçados? Como falar em cidadania quando se vêem alunos mal alimentados, cuja única refeição que recebem por dia é a merenda escolar? Como falar em cidadania para esses alunos que já se acostumaram a presenciar a cena do despejo, porque seus pais não pagaram o aluguel das casas onde moram? Como falar em cidadania para filhos de pais que viram algum membro da família morrer nos corredores de hospitais públicos? Como falar em cidadania nas instituições escolares para alunos que estudam em escolas deterioradas pelo tempo, sem mobiliário adequado e outras condições pedagógicas? Como falar em cidadania na escola, se até os professores não são respeitados como profissionais, porque lhes negam um salário digno e condições de trabalho favoráveis ao desenvolvimento das atividades pedagógicas?
Poder-se-ia falar aqui de um grande número de situações que envolvem o desrespeito à vida, quando se desrespeita os direitos fundamentais do homem.
E foi refletindo sobre essa problemática, que chegamos a uma escola para fazer uma visita aos alunos e professores. Estavam desenvolvendo o Projeto “Resgate da Cidadania”. No momento em que os parabenizamos pelo trabalho, um aluno levantou-se com a seguinte pergunta:
- Professora, estamos desenvolvendo nesta semana o projeto “Resgate da Cidadania”.
Fizemos uma pesquisa de campo e pudemos fazer nossa leitura sobre a
realidade social desses lugares e encontramos os excluídos, os oprimidos, os sem-nada, os indefesos e injustiçados pelos governos. Essas pessoas estão exercendo a sua cidadania?
- Não. Respondemos de uma forma bem segura. Estar em gozo da cidadania é ter vida digna, vida de gente. É poder gozar de todos os direitos humanos que são direitos de todos. É ter moradia, ter educação e saúde de qualidade, ter lazer, ter liberdade para decidir o que é melhor para sua vida, além de outros elementos que definem o ser e o estar no mundo.
Meu caro leitor, os alunos dessa escola continuaram com outras perguntas que surpreenderam a todos nós, por envolver aspectos relevantes da condição humana. Falaram em solidariedade, em direitos civis, sociais e políticos. Abordaram os problemas que eles vivenciam na própria escola onde estudam, nas famílias onde nasceram, no bairro onde vivem, na cidade onde moram.
Com essas colocações, percebi que estava ali um terreno propício para ajudá-los a levar avante seu Projeto “Resgate da Cidadania”, já que entendemos que a cidadania passa pelo cuidado com as pessoas e com a educação como prioridade maior. E, refletindo melhor essa problemática, em tudo isso não basta elaborar leis, nem fornecer os meios materiais... Há necessidade de introduzir em cada ação, uma dose bem grande de amor, condição “sine qua non” para alcançarmos nossos objetivos.
E foi assim, com olhos bem vivos, ouvidos atentos e mente aberta que nos despedimos dos alunos e professores dessa escola.





terça-feira, 28 de outubro de 2008


Um susto que quase seria uma tragédia...


Não sei se você já percebeu, caro leitor, que gosto de contar as peripécias das minhas crianças. A de hoje é do meu filho mais velho. É a primeira que escrevo sobre ele. Não que não tenha aprontado muitas e boas, mas porque foi passando simplesmente... E, talvez porque ele tenha se tornado um moço responsável, sério, introspectivo, dedicado e muito atencioso. Mas vamos ao fato quando Lívio tinha apenas quatro anos. Havíamos mudado para uma cidade próxima à nossa. Com as mesmas peculiaridades de uma cidade pequena do interior. Seu povo muito bom, hospitaleiro, educado, traz consigo um orgulho bonito: de ser lá a terra do ilustre educador Anísio Teixeira e de tantas outras personagens famosas que fizeram história na música, nas letras, nas artes e na política. Estou falando de Caetité, “a pequenina ilustre”, título de um livro da Professora Helena Lima, uma das mestras mais cultas da antiga Escola Normal de Caetité.
Por ossos do ofício, meu marido fora transferido para essa cidade. Todos vivíamos muito bem lá, apesar da saudade que sentíamos dos nossos pais, parentes e amigos. E Lívio sentia essa saudade maior por ter deixado a Escola Cirandinha, sua vovó Rosa a quem tinha uma afeição e apego muito grandes. Sem falar na sua eficiente babá, a madrinha Dita, que amava muito e a achava linda!
Com outra babá em Caetité, ele ficou meio agitado, muito traquinas mesmo! Saía todos os dias para passear com ela na Praça da Catedral, onde funcionava o Banco em que seu pai trabalhava. Nesses passeios, sempre entrava na agência, inesperadamente, para dar o beijo e o abraço no pai, que saía cedo e o deixava dormindo.
Caetité é uma cidade de clima frio, um dos orgulhos também dos seus filhos. O frio imprime às pessoas uma postura mais centrada, exige vestuários elegantes e eu tinha a impressão, logo que ali cheguei, de que o povo era sisudo, “orgulhoso”, sabe aquele orgulho que despreza, que olha a pessoa de cima a baixo?... Mas era só impressão! A convivência diária com colegas no Instituto de Educação Anísio Teixeira, o IEAT, com os amigos, percebi o quanto estava equivocada! Caetité era a cidade que moraria, depois de Brumado, pela educação do seu povo, pelo seu clima, pela sua tradição.
Mas vamos ao nosso caso. Era mês de julho e uma fina garoa caía sobre a cidade. O vento assobiava uma melodia estridente, que mais parecia uivos de leão. E mesmo assim, Lívio saía com a babá para dar sua voltinha trivial na praça e visitar o pai no trabalho. Nesse dia, porém, algo terrível poderia ter marcado nossa vida... Ele entrou na agência num dia em que estava cheia... Pessoas que faziam depósito, outras que sacavam valores, outras que iam fazer empréstimos, enfim, estavam ali para serem atendidas pelos serviços que o Banco oferecia.
Ao chegar à Gerência, abraçou e beijou o pai que estava atendendo a uns clientes e se distraíra dele. Foi o tempo certo para, na curiosidade peculiar a toda criança, abrir uma das gavetas da escrivaninha. Em abrindo a gaveta, seus olhos brilharam!... Estava ali o seu brinquedo... Um brinquedo que vinha pedindo há muito tempo... Um revólver! Mas não era brinquedo! Como gerente do banco, meu marido tinha porte de arma e era obrigatório que ficasse a sua disposição, carregado, para alguma eventualidade. E Lívio com uma satisfação tamanha, pegou o revólver, com o dedinho no gatilho, apontou para toda a clientela e disse:
- Pai, posso atirar?
Durante muito tempo acordava sobressaltada ao pensar no que poderia ter acontecido, se meu marido não tivesse, como relâmpago, lhe tomado a arma que realizaria a sua fatídica missão.
A clientela, ao ver a arma apontada em sua direção, quis entrar em pânico, mas logo que o pai tomou a arma das mãos da criança e o susto passara, todos deram boas gargalhadas...

domingo, 26 de outubro de 2008




A LUA

Vejo a lua no alto
Prateada, cheia de luz
Brilhar no céu infinito
E tornar infinitos os meus pensamentos.
Vejo a lua cheia, grávida de amor
Derramar sua luz branca
Em cima da minha janela
E me atingir com seus reflexos.
Vejo a lua com seu clarão
Acordar-me para os ensaios
Que antecedem o ápice do amor
E tocar por inteiro meu chão.
Vejo a lua que chega atrevida
Gorda, bem redonda, alvacenta
Para invadir meu leito, amar e depois
Dormir comigo um sono perfeito.

Ser...







Poesia Pensamento

Ser...

Ser vida presente e essência
No elo mais profundo...
Não reduzir-se ao nascimento
E à morte que destrói...
Viver com entusiasmo
E penetrar a fundo...
Mesmo em tudo que dói...

Viver em você e em volta
E não se perceber
Como fragmento isolado...
Olhar para frente... Com jeito
Volver o olhar para os lados...
Não se ocultar de repente
Na fria e opaca tela de conceitos...

Ouvir a voz dentro do ser
E buscar a essência na dor
Sem se dar conta dos preconceitos!
E para não ser apenas sofredor
Nesse universo fragmentado
Que irrompe do seu próprio “eu”
Você precisa estar “acordado”.

Juntar-se às pequenas centelhas de luz
Agregar-se ao todo multidimensional
Respeitar no ser a dualidade que induz
Ao bem, ao mal; ao nascer e ao morrer
Antes de ser cindido pela força cósmica
Que tudo abrasa e domina, tudo elimina!
O importante é SER VOCÊ!