sexta-feira, 19 de setembro de 2008




Espelho e as duas faces


Com um gesto bem natural
Viu-se diante do espelho...
E, nessa hora, revolveu seus dias
No emaranhado dos cabelos
Cujos fios já lhe diziam a verdade
Sobre o tempo que tão célere corria.

Face a face estiveram a ver assim:
Seu físico - a imagem que o espelho refletia
E o que havia de mais escondido de si mesma...
Então, se surpreendeu estarrecida
Com a moldura do seu rosto quase apagada
Sem graça, aparência envelhecida.

Envelhecida como as fotos em preto e branco
Guardadas como relíquias... amarelecidas
Num álbum de família; assim era sua face...
Em vez de um sorriso jovial, franco e aberto
Viu no rosto, outrora jovem e sem disfarce
Um sorriso trêmulo, triste e incerto.

Mas o espelho não revelava nesse instante
O viço e o frescor que trazia dentro do peito
Fruto de dias envolvidos de ternura e amores...
O que existia dentro de si meio hesitante
Só se refletia no espelho de sua alma
Onde guardava segredos e fantasias multicores.

O que o espelho do seu quarto revelava
Era outra identidade do seu interior
Eram sinais tão visíveis e tão fortes...
Que esse espelho não podia esconder
Era o reflexo exterior da face: outro parecer
Que nada falava do seu mais recôndito ser.

O que não pôde ver nesse passeio
Através da imagem que o espelho refletia
Foi o que de melhor a vida lhe dera:
Condição para viver, sonhar como queria
E a capacidade de ser melhor, amar melhor
E de se preparar para a grande travessia.

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